Jornal de Negócios entrevista Sohail Sultan – Presidente do iibGroup

3rd June 2024

Novo Banco sai de Cabo Verde após venda a grupo do Bahrein

A instituição financeira vendeu os 10% que ainda tinha no iib CV ao grupo do Golfo Pérsico que detém os outros 90%, revela o “chairman” da “holding” em entrevista ao Negócios. Novo Banco não comenta.

O Novo Banco vendeu a participação de 10% que tinha no cabo-verdiano iib CV ao grupo que já detém o restante capital da instituição financeira, revela o “chairman” do iib Group, Sohail Sultan (na foto), em entrevista ao Negócios, sem avançar o valor da operação.

“O Novo Banco tinha o direito, que exerceu no final do ano passado, de vender-nos a participação. A transação foi concluída há uma semana”, afirma Sohail Sultan. “Agora temos 100%”, conclui. Contactado pelo Negócios, o Novo Banco não comenta.

O grupo, que tem bancos no Médio Oriente, África Ocidental e Oriental e nas Caraíbas – e que tem manifestado a intenção de comprar um banco em Portugal – não vai, no entanto, ficar com a totalidade do capital do iib CV permanentemente. “A nossa intenção é abrir o capital social da entidade cabo-verdiana e atrair outros investidores internacionais, bem como investidores locais”, diz Sohail Sultan. Quanto? “A nossa intenção é ver se conseguimos vender os 10% que adquirimos”, acrescenta, explicando que “na medida em que necessitamos de capital adicional em algum momento no futuro, consideraríamos potencialmente emitir mais ações e abrir ainda mais o capital. Mas neste momento, não é uma prioridade e todos os requisitos de capital para o banco estão a ser cumpridos pelo grupo ou a ser gerados através do sucesso da operação”, diz.

Quanto a perfis dos eventuais compradores da participação minoritária que quer alienar, o “chairman” do iib Group manifesta que gostaria de “ter acionistas em Cabo Verde que pudessem apoiar o crescimento e expansão contínuos do banco. Não só em Cabo Verde, mas também nos países de língua portuguesa e africana onde operamos”, continua. A estratégia do grupo do Bahrein passa por aproveitar oportunidades em mercados onde a banca europeia tem diminuído a atividade, por vontade própria ou pressão regulatória.

O iib CV conseguiu, em 2023, o lucro mais alto de sempre: 6 milhões de euros, 55% acima do resultado do ano anterior.

BCA é caso encerrado?

As ambições do grupo do Golfo Pérsico para Cabo Verde sofreram um revés em março passado, quando viram preterida a sua proposta de compra de quase 60% do capital do Banco Comercial do Atlântico (BCA) à Caixa Geral de Depósitos (CGD), negócio no qual a instituição financeira pública portuguesa encaixou cerca de 16 milhões de euros. O vencedor da corrida foi a Coris Holding, que tem sede no Burkina Faso.

O negócio aguarda luz verde dos bancos centrais dos dois países e Sultan manifesta desde já abertura para voltar ao dossiê caso a operação acabe por não chegar a bom porto. “Em última análise, caberá aos reguladores determinar se a venda do BCA pela Caixa Geral de Depósitos à Coris é aprovada ou não. Se, por qualquer motivo, isso não acontecer, estamos prontos para participar novamente no processo e esperamos poder ter sucesso na próxima vez”, atira, insistindo que “se houver alguma preocupação em relação ao processo de venda, teremos todo o gosto em voltar a interagir com a CGD para ver se existe a possibilidade de a venda ser feita a nós próprios”. Nesse cenário, o desfecho do BCA e do iib CV estão traçados: serão fundidos num só.

Balanço em crescimento

O iib Group, refletindo a evolução do sistema financeiro global, teve um ano de 2023 positivo. O grupo do Bahrein não divulga os números do negócio, mas Sohail Sultan avança que o balanço cresceu 10% a 15% em base consolidada face a 2022. Em parte graças ao desempenho do banco em Cabo Verde. “Quando comprámos o iib CV, era um banco problemático. Era o menor banco do país. Até ao final do ano passado, provavelmente seremos, em termos de ativos, o terceiro maior banco”, realça.

Para o conjunto dos bancos do grupo, Sultan prevê um 2024 mais positivo do que o ano passado e um abrandamento em 2025.

Os três nomes e três donos da história do atual

iib CV O atual iib CV já teve outros dois nomes e donos. A instituição financeira que fez parte do universo Espírito Santo (até 2015 teve o nome BES Cabo Verde) fez parte dos ativos herdados pelo Novo Banco no processo de resolução do BES. Em novembro daquele ano seria rebatizada para Banco Internacional de Cabo Verde (BICV). Dois anos mais tarde, a instituição financeira portuguesa chegaria a acordo com o iib Group para a alienação de 90% do capital, mantendo o direito de exercer o direito de venda dos restantes 10%, coisa que viria a fazer no final de 2023, adianta o “chairman” do grupo do Bahrein.

Contactado pelo Negócios, o Novo Banco não comenta – nem desmente. A entrada do iib Group no capital foi concretizada em 2018, depois de a tentativa de venda pelo Novo Banco a José Veiga ter falhado.

iib apresenta proposta pelo BNI. “Queremos estar na Europa”

Falhada a compra do Banco Comercial do Atlântico (BCA) à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o iib Group continua a aposta dupla no crescimento orgânico e através de aquisições.

Falhada a compra do Banco Comercial do Atlântico (BCA) à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o iib Group continua a aposta dupla no crescimento orgânico e através de aquisições. Reiterando o desejo de entrar no mercado europeu via Portugal, o “chairman” Sohail Sultan avança que já fez uma proposta de compra ao BNI Europa, cujo perfil – presença em África e no velho continente – entronca nos objetivos do grupo para a Europa e em território africano.

O BNI procura comprador. Está interessado?

Participámos no processo inicial e estamos a aguardar para ver como o vendedor decide levar o processo adiante. Pelo que sabemos, eles receberam uma série de propostas e estão a analisá-las. Desde o início deixamos claro que temos interesse em adquirir um ativo financeiro regulado em Portugal. Haverá uma série de considerações na determinação do ativo apropriado. Na medida em que pudermos adquirir um banco em Portugal, estaríamos interessados em fazê-lo.

Fez uma proposta específica de aquisição do banco?

A primeira fase exigiu ofertas indicativas por parte dos proponentes. Vários licitantes apresentaram propostas, incluindo o iib. Neste momento, ainda estamos à espera para ver como o vendedor pretende progredir, se é que o fará.

Pode divulgar os números da proposta?

Não neste momento.

Quando espera saber se a proposta do iib Group vai à segunda fase?

Não recebemos nenhuma indicação. Acredito que haja apenas um punhado de propostas internacionais.

O BNI está em Portugal, mas tem uma ligação muito forte e óbvia a Angola. Como é que se enquadra na vossa estratégia global?

Resumiu bem. É um ativo interessante e, se houver uma oportunidade de avançar na discussão com o vendedor, ficaríamos muito felizes em fazer isso porque o BNI possui essas duas características.

Se a vossa proposta não tiver o desfecho que espera, que outras oportunidades pode analisar?

Não existem muitas oportunidades neste momento, mas continuamos atentos, na medida em que um banco se torne disponível a um preço que consideremos sensato, para ver se conseguimos de facto concluir uma transação.

Como é que a compra de um banco em Portugal é compatível com a estratégia geral do grupo, que até agora está focado em África, nas Caraíbas e no Médio Oriente?

O que Portugal, ou mais especificamente uma instituição financeira regulada pela União Europeia, nos permitiria é um grau de conectividade internacional para operações bancárias eficazes no espaço dos mercados emergentes que ocupamos atualmente. Sendo regulados na Europa, teríamos efetivamente acesso aos sistemas europeus de pagamentos, que claramente são valiosos para qualquer instituição financeira que opere no espaço bancário dos mercados emergentes. Portanto, penso que isso seria um fator de grande atração para nós, em termos de ter um ativo regulado no espaço europeu. Mas, além disso, vemos aqui claramente oportunidades para desenvolver a nossa atividade bancária comercial num mercado europeu mais amplo, possivelmente a partir de uma entidade regulada portuguesa.

Para simplificar: além das geografias onde já está presente, gostaria de operar na Europa?

Sim.

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